O
psicólogo Daniel Goleman diz que precisamos administrar nossa atenção
para melhorar nosso desempenho profissional -- e também de empresas
POR MARCELA BOURROUL
Toda vez que vem ao Brasil, Daniel Goleman diz que o país parece estar envolvido em algum tipo de crise.
A cada desembarque, a palavra está na pauta do dia. Brincadeiras à
parte, ele usou essa impressão para chamar atenção do público no HSM Expomanagement nesta segunda-feira (9/11) sobre seu atual campo de estudo: foco. O autor do best-seller Inteligência Emocional afirma que o estresse é o inimigo do foco.
Por estresse, entenda-se tensões no ambiente corporativo e uma
quantidade enorme de informações que nos bombardeiam diariamente. E vale
dizer: estamos perdendo dinheiro por falta de foco.
“Precisamos ser administradores da nossa atenção, não vítimas da nossa inatenção”, diz Goleman.
O autor explica que há dois tipos de distração. Quando você está
tentando trabalhar em um café e há vozes ao redor das quais você precisa
se desligar, eis o tipo fácil de distração. O tipo difícil é a
distração emocional.
Há uma parte do cérebro responsável por identificar
ameaças. Ela nos ajudou a sobreviver e chegar até aqui, mas é um
problema nas organizações. A questão é que essa parte do cérebro
responde tanto a ameaças físicas quanto abstratas.
Se seu colega recebe uma promoção ou se você é um chefe tentando
sobreviver a uma crise, essa parte emocional “sequestra” o cérebro e,
portanto, o foco. Isso acaba com a nossa habilidade de pensar com
clareza, aprender e se adaptar.
Além disso, quando estamos nesse “modo
ameaçado”, a tendência é tomar decisões mais automáticas e agressivas.
Goleman justifica a atitude de Mike Tyson ao arrancar as orelhas durante
a luta com Holyfield como uma situação de "sequestro emocional".
A inteligência emocional, afirma o psicólogo, é o que costuma
diferenciar os líderes das empresas. Além de entender como uma decisão
tomada hoje vai afetar a empresa amanhã, ele precisa gerenciar os
funcionários para colocar uma estratégia em prática. “A maior tarefa do
líder é dirigir a atenção para onde ela precisa ir”, afirma. Para isso, o
líder precisa trabalhar três tipos de foco: em si mesmo, nas pessoas
com quem trabalha e no sistema que determina se a empresa terá sucesso.
Ferramentas
Para os líderes, eis a dica: a neurociência já mostrou que o cérebro é
capaz de sentir a atitude da outra pessoa. Esse canal é extremamente
importante na hora de criar um ambiente de alto desempenho.
O líder é aquela pessoa na qual todo mundo presta atenção. Um estudo da
Universidade de Yale mostrou que se o líder estava de mau humor, as
pessoas entravam na “vibe” e tinha um desempenho pior. Quando ele estava
de bom humor, a influência era positiva. “Essa é a conversa silenciosa,
que faz muita diferença no desempenho. Os líderes precisam prestar
atenção ao seu estado emocional”.
Outra dica: se alguém for conversar com você, esqueça o celular, o
email que está entrando na caixa ou a televisão. Preste atenção no seu
interlocutor e somente nele.
Para treinar a concentração, Goleman sugere o uso da técnica de
mindfulness. Ela consiste em sentar-se em uma posição confortável e
prestar atenção na respiração, enquanto você inspira e expira.
Sempre
que sua mente tenta divagar, você deve trazer a atenção de volta para a
respiração. Quanto mais você treina, mais fácil fica. É como se fosse
uma musculação do foco.
Os alvos que ninguém vê
Ao final da palestra, Goleman falou sobre os objetivos que ninguém é
capaz de enxergar. Ele cita a história de Kobun Chino, o guia espiritual
de Steve Jobs, um excelente arqueiro. Ao se apresentar para um grupo na
Califórnia, ele faz a flecha passar longe do alvo -- ultrapassando a
cerca e despencando no Oceano Pacífico.
O público se espanta, mas ele
grita como se tivesse atingido o alvo. E atingiu, mas não o alvo que
todos estavam olhando.
O psicólogo faz o paralelo dos ensinamentos de Chino com a liderança de
Jobs: ele foi capaz de criar um mercado para produtos que ninguém via,
como o iPad. E isso foi essencial para o futuro da Apple. O mesmo
acontece agora com o Google, que criou a empresa Alphabet e mostra
claramente que o site de buscas é um produto de sucesso, mas que não
será o único motor de crescimento da companhia.
Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2015/11/o-estresse-e-o-inimigo-do-foco.html
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