Milhares de brasileiros têm feito a pergunta acima nos últimos meses, em função da queda no nível de atividade econômica, confirmada nesta sexta-feira pelo IBGE.
Segundo o instituto, o PIB de abril a junho teve uma contração de 1,9%
em relação ao trimestre anterior, que, por sua vez, tinha registrado uma
queda de 0,7% --o que nos coloca oficialmente em recessão técnica.
Mas recessão significa muito mais que um número negativo na planilha de
economistas --e talvez a forma mais direta com que atinja a vida das
pessoas seja mesmo pelo aumento do desemprego.
Segundo a Pnad Contínua, pesquisa sobre emprego do IBGE, a taxa chegou a 8,3% no segundo trimestre deste ano, a maior desde o início da série histórica, em 2012 --na Bahia, o índice superou os 12%.
Desde o início do ano, mais de 350 mil brasileiros perderam seus
trabalhos no setor privado, segundo dados do IBGE, que, nesse
levantamento, leva em conta apenas os que tem carteira assinada.
O que é pior: hoje, consultorias econômicas preveem pelo menos dois
anos de PIB negativo --ou seja, outros milhares ainda podem perder seu
ganha-pão nos próximos meses.
Para ajudar na saga de quem está
buscando um novo trabalho neste cenário nada animador, a BBC Brasil
pediu para que leitores colocassem suas dúvidas sobre o tema em
entrevistas e postagens nas redes sociais.
Procuramos gestores de carreira e recrutadores para conseguir as respostas. Confira abaixo:
1. Vale a pena investir em qualificação e idiomas?
Há consenso entre especialistas consultados pela BBC Brasil que
aprender inglês é essencial para quem busca uma recolocação no mercado.
"Não ter conhecimento de idiomas pode excluí-lo de um processo
seletivo", diz Fábio Cunha, da empresa de recrutamento e seleção Michael
Page.
"Se você tiver condições financeiras, talvez essa seja
até a oportunidade que precisava para passar um tempo em um país
estrangeiro e melhorar o inglês", diz Lucas Nogueira, da Robert Half,
empresa especializada na busca de profissionais qualificados.
Sobre os outros cursos de qualificação, os especialistas dizem que é preciso pesar bem custos e benefícios.
Telma Guido, consultora sênior da Right, empresa ligada ao
ManpowerGroup, ressalta que eles podem ser uma boa oportunidade para o
profissional se atualizar em sua área ou até explorar uma área
correlata.
"Mas não é qualquer qualificação que vale a pena, o
curso precisa estar bem alinhado com sua carreira. E é preciso tomar
cuidado especial com os muito caros, caso dos MBAs, mestrados e etc."
Cunha concorda. "Afinal, um curso pode até fazer a diferença em um ou
outro caso específico, mas no geral é apenas mais um entre muitos
fatores a serem considerados na competição por vagas", diz.
Para
os especialistas, os cursos de mestrado e doutorado, em especial,
seriam mais adequados para quem quer uma carreira acadêmica. No mercado,
seriam valorizados apenas em ocupações específicas.
Sobre fazer
um curso para mudar de área, os especialistas divergem. Para Guido, o
profissional tem de considerar que, com a crise, terá de competir com
outras pessoas que já têm experiência nessa nova área.
Nogueira
acredita que o risco pode valer a pena. "Essa é, afinal, uma
oportunidade para você avaliar os rumos de sua carreira. Você pode ir
para uma área que lhe deixe mais feliz ou esteja resistindo melhor à
recessão."
Para ele, quando o tema é cursos de qualificação, os
contatos feitos na sala de aula são tão importantes quanto os conteúdos
ministrados.
"O curso pode lhe agregar network (rede de
relacionamentos). Você pode conhecer alguém que sabe de um novo projeto
em sua área, por exemplo. Se trabalha em vendas e faz um curso de
marketing, vai encontrar gente dessa área. Ou se decidiu largar tudo e
virar chef de cozinha, é no curso que vai encontrar pessoas no mesmo
caminho."
2. E abrir um negócio próprio?
"Não há receita de bolo, mas é preciso cuidado com as propostas de retorno mirabolantes", recomenda Nogueira.
Ele diz que é comum que uma pessoa que trabalhava de 8 a 10 horas por
dia sonhando em ter uma pousada no litoral queira pegar o dinheiro
recebido na rescisão de seu contrato para seguir esse sonho.
"Até porque a pessoa fica meio desnorteada de não ter de ir para o
escritório na segunda de manhã. Mas é preciso muita calma e sangue frio
para abrir um negócio. Os riscos precisam ser muito bem avaliados",
completa.
Cunha faz uma recomendação semelhante. "O profissional
brasileiro tem uma tendência empreendedora - e abrir um negócio com o
dinheiro recebido após a demissão vai ser uma tentação para muita
gente", diz ele.
"Mas é preciso lembrar que, em um momento de
recessão econômica, os riscos desse caminho são ainda maiores. A decisão
precisa ser muito bem pensada."
3. Onde procurar trabalho?
O primeiro passo é o que os especialistas definem como "ativar sua rede
de relacionamentos", ou seja, contatar antigos chefes e colegas,
conhecidos e profissionais de sua área.
O objetivo é detectar onde podem estar surgindo novas oportunidades e se mostrar disponível.
"Não é para apenas disparar e-mails com currículos em anexo. Você
precisa trocar informações sobre o setor e também engajar algumas
pessoas na sua busca por trabalho.
Elas precisam se lembrar de você
quando souberem de uma oportunidade", diz Nogueira.
A internet é hoje a grande aliada de quem está atrás de um novo trabalho.
"Além de se cadastrar nos sites das empresas a pessoa deve manter
atualizado seu perfil no LinkedIn (rede social de negócios) e conferir
as vagas anunciadas ali", recomenda o especialista da Robert Half.
"Os sites de busca de emprego também podem ajudar. E outra dica boa
pode ser participar de grupos de discussão temáticos em redes sociais,
pois muitas vezes os head hunters (caçadores de talentos) anunciam vagas
nesses fóruns."
4. Como manter a disposição e autoestima elevadas?
"Uma receita básica é: mantenha a disciplina. Acorde cedo, coloque uma
roupa social. Marque almoços com pessoas da sua área, leia muito, faça
algum exercício e mantenha-se ativo", diz Nogueira.
"Uma
demissão tem de ser encarada como uma oportunidade de você revisar sua
carreira e rumos profissionais, não dá para se desesperar - até porque
as pessoas estão ficando desempregadas na realidade em função de um
problema da economia."
Para Guido, a busca por um emprego deve ser encarada como um trabalho.
"Esse acaba sendo um teste de resiliência. Se você se abate e perde a
confiança, pode ir mal em uma entrevista e reduz suas chances de
encontrar uma boa oportunidade", diz ela.
Fazer trabalhos temporários em sua área também pode ajudar nessa questão da autoestima, segundo a consultora.
"Mas se o trabalho for um 'bico', fora de sua área é preciso tomar
cuidado para que ele não consuma todo seu tempo e energia e tire seu
foco da busca de um novo emprego. É preciso que haja um equilíbrio."
5. Como chamar a atenção de recrutadores que avaliam tanta gente qualificada?
Segundo Cunha, um currículo "eficiente" fala de maneira clara e
objetiva o que a pessoa fez em cada lugar que trabalhou e por que fez a
diferença para a empresa.
"Um currículo não pode ter mais de
duas páginas e precisa ser claro e objetivo. Uma dica legal é fazer a
divisão por pontos, como em uma apresentação de Power Point", completa
Nogueira.
No caso de vagas específicas, é interessante ressaltar
experiências e competências que possam ser interessantes para a função
anunciada.
E na entrevista, os recrutadores lembram que os
candidatos precisam mostrar que estudaram a empresa e tem uma ideia
clara de como podem contribuir para potencializar seus resultados.
6. Como explicar uma demissão?
A regra seria transparência. "Não minta. É preciso ser direto e
objetivo, mas sem se alongar muito. Não dá para ficar falando mal do
emprego anterior ou do chefe", diz Guido.
"Se houve uma
reestruturação na empresa, ou a empresa fechou, nem há muito o que
explicar. Se o problema foi o desentendimento com gerente ou diretor,
fale abertamente: 'Foi uma incompatibilidade de ideias, de estilos ou
algo do tipo'", completa Nogueira.
7. E quem está fora do mercado há algum tempo e precisa voltar?
Para Nogueira, os projetos ou trabalhos temporários são uma ótima forma
desses profissionais que estão afastados conseguirem voltar ao mercado.
"No caso de uma engenheira civil, por exemplo, pode ser uma obra, uma reforma ou uma parceria com um arquiteto", diz ele.
Guido diz que o afastamento em função de maternidade, caso da leitora
Mayara Porfírio, é aceito e compreendido por boa parte das empresas.
Para ela, se tiver pressa de entrar no mercado, a profissional pode 'flexibilizar' sua busca.
"Talvez seja o caso de aceitar posições um pouco mais baixas e depois
tentar subir na empresa, ou de procurar ocupações em áreas correlatas",
diz ela.
Cunha concorda: "Ela pode tentar entender quais das
suas habilidades e competências poderiam fazer a diferença em áreas e
setores que estão resistindo melhor à crise."
8. Qual o melhor momento para procurar estágio?
Os programas de estágio e trainee estão resistindo à crise, como
relataram empresas de recrutamento em matéria recente publicada pela BBC
Brasil.
Segundo Guido e Nogueira, um bom momento para fazer
estágio seria no segundo ou terceiro ano. Para a consultora da Right, o
primeiro ano seria uma fase de adaptação ao curso, na qual o estudante
estaria ganhando maturidade.
Já Cunha acha que se o estudante
tiver uma oportunidade e a carga horária do curso permitir, começar logo
do primeiro ano pode ser interessante para que ele já possa ter contato
com o ambiente corporativo e comece a entender suas preferências em
termos de carreira.
"O quanto antes, melhor. Mas é preciso
entender que um estágio que você vai conseguir no primeiro ano pode
envolver funções mais simples, operacionais. O estudante precisa ajustar
suas expectativas", diz.
Fonte: http://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2015/08/28/brasil-em-recessao-fui-demitido---e-agora.htm