A dica é investir em um diferencial, naquela qualidade ou conhecimento que dificilmente outro candidato vai apresentar
Nos Estados Unidos, na Europa e no mundo: por todos os lados, há sinais do efeito mais cruel da crise econômica: o desemprego.
A
Boeing anunciou a demissão de mais 5,5 mil pessoas. Mais uma: a rede
internacional de cafés Starbuck's vai dispensar quase sete mil
funcionários.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho,
50 milhões de vagas podem desaparecer ao longo deste ano. Encontrar um
emprego nesse contexto exige, mais do que nunca, estratégia, para não
desperdiçar munição.
Os especialistas dizem: espalhar currículos
em dezenas de empresas não aumenta as chances de conseguir emprego. E
recomendam: invista em um diferencial, aquela qualidade ou conhecimento
que dificilmente outro candidato vai apresentar.
Documentos em dia, currículo pronto. Marcelo Nonato espera
resposta do balcão de empregos mais uma vez. A empresa em que ele
trabalhava como assistente de administração começou a demitir em
outubro. O cargo dele não foi poupado.
“Falaram que estavam com
muito pessoal, inclusive eu já tinha feito uma lista de uns 30 que eu
tinha começado a fazer dispensa. O próximo fui eu”, conta.
A
crise atingiu em cheio o mercado de trabalho brasileiro. Há um ano, a
geração de empregos batia recordes. Com a economia aquecida, quase todos
os setores reclamavam de falta de profissionais. Era o apagão de
mão-de-obra. Hoje, difícil é encontrar quem esteja contratando.
Com
mais gente buscando emprego, cresce a concorrência por vagas nas
empresas. Por isso mesmo, elas estão mais exigentes na hora de
selecionar candidatos. Essa mudança exige a uma nova atitude de quem
está procurando uma oportunidade de trabalho.
Nelson Miguel Jr. conta que, quando começou a chefiar o Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT) em São Paulo, há quatro anos, a preocupação era com a aparência do candidato. Agora, pesam outros ingredientes.
Porteiro
tem que ter noções de informática. “Até pouco tempo atrás, não
necessitava. Hoje, necessita, porque ele está operando computador e
câmeras de vigilância. Então, ele não pode ser um analfabeto digital”,
explica.
Auxiliar de limpeza precisa ter concluído o Ensino
Médio. “Ele tem que ter raciocínio, conhecimento, discernimento para
diferenciar os produtos com que ele está lidando e conhecer máquinas e
equipamento”, afirma o gerente do CAT.
No telemarketing, é a vez
dos homens e mulheres com mais de 40 anos: “Essa área de telemarketing
tem vários segmentos. Então, cada um tem um perfil um pouco diferente,
mas ele tem que ser também às vezes um psicólogo, um bom vendedor, falar
bem e saber quando desligar o telefone, a ponto de não perturbar a
pessoa com quem ele está conversando”, diz.
Em uma empresa de
tecnologia da informação, uma das maiores do país, há 200 vagas. O
candidato tem que ter inglês fluente. Se souber japonês, está
contratado.
“O Brasil é a segunda maior colônia japonesa do mundo
e tem um potencial em prestar serviço para o Japão, mas ainda está em
um embrião em serviço para o Japão”, diz o presidente da empresa,
Benjamim Quadros.
Especialista em recursos humanos, Elaine Saas
diz que o desempregado deve manter contato com profissionais da área e
amigos que possam avisar quando houver novas oportunidades.
“Em
um momento de crise você tem que focar muito dos seus esforços onde você
tem bastante experiência que é onde vai ser competitivo. Isso não quer
dizer se fechar. Quer dizer colocar um esforço mais significativo onde
você tem uma boa chance”, aponta a consultor de RH Elaine Saad.
Isso
não significa colocar currículos por aí. É uma dica importante: os
recrutadores valorizam o candidato que procura a vaga, porque se
identifica com a empresa e os valores dela.
Gerente de projetos
aos 22 anos de idade, chegar onde está não foi fácil para Aline Mauriz.
Ela passou três anos e meio estagiando para trabalhar na empresa. “O
conhecimento que eu tive nesses anos de estágio e a prática da coisa. Na
própria entrevista, eles citaram isso que o fato de que eu já estar
conseguindo era um diferencial entre as outras pessoas”.
Ex-presidente
da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, e
um dos executivos mais respeitados do país ensina: um bom candidato
pode perder um emprego se não souber mostrar ousadia numa seleção de
vaga, principalmente nesses tempos em que o mais se espera dos novos
contratados é inovação.
“Eu acho que as pessoas quando fazem
entrevista de emprego, são muito pouco ousadas e são muito tímidas. Ela
precisa sentar e estabelecer uma relação de igual e mostrar para aquela
pessoa que ela tem uma personalidade própria, que ela tem vontade, que
ela tem idéias e que ela tem principalmente uma razão para estar ali
naquele momento lutando pelo emprego e competindo com tantas outras
pessoas”, afirma.
Horácio Lafer Piva explica que o empregado mais
valorizado tem uma especialidade, mas não se fecha nela. É um
funcionário multitarefa, que faz bem aquilo para que foi contratado, mas
também se dispõe a exercer outras funções.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/economia/pos-e-carreira/especialistas-indicam-como-conseguir-emprego-em-tempos-de-crise-bebyehfqy38zb9g5jhbe56vri