Especialista em marketing Dado Schneider mostrou na Campus Party que é possível dizer muito sem falar absolutamente nada
Nenhuma palavra. Durante 30 minutos, ele fica mudo. Não é exatamente
como você imaginaria uma palestra de capacitação corporativa. Mas o doutor em comunicação Dado Schneider prova
que é possível dizer muito sem falar absolutamente nada. Com tênis,
jeans e camiseta preta, ele sobe ao palco e começa a tirar um "pau de
selfie" de dentro da embalagem. E então, estica o acessório em direção à
tela.
De repente, o ritmo pesado de "Slats slats slats", do Skrillex,
toma conta do ambiente. A plateia grita e aplaude em comemoração — pela
primeira vez dos muitos aplausos que viriam a seguir.
Dado se apresentou na última quinta-feira (05/02) na oitava edição da
Campus Party, em São Paulo. Uma das primeiras informações que apresenta
durante uma sucessão de slides é a de que até pagaria para palestrar no
evento. Assim como milhares de jovens empreendedores, o professor passa
uma semana acampado no centro de exposições. Em sua apresentação, ele
gesticula enquanto mostra slides rapidamente ao som de canções que
refletem o tema sobre o qual está falando. O método tem motivo: as pessoas não conseguem olhar para o celular. É uma experiência sensorial que impede dividir a atenção com "outra tela".
"Se o mundo muda, a palestra também muda", diz um dos slides. Ele pede
que todos descruzem os braços e avisa que tocará sete canções antes de
começar a falar. Ao som de "Staying Alive", do Bee Gees, explica sobre
como é difícil "ser um velho" nos dias de hoje. No passado, os idosos,
em razão de viver menos, não tinham de se atualizar. "É preciso se
manter vivo", diz o palestrante em referência à música. Para Dado, de 53
anos, os jovens têm de ajudar os mais velhos nesta tarefa. As duas
gerações podem ensinar muito uma para a outra — segundo ele, juventude e
experiência tem de andar de mãos dadas.
Quando toca "Welcome To The Jungle", Dado defende que o mercado não
está fácil. Os jovens, segundo ele, precisam aproveitar o momento da
vida que permite o maior crescimento. Para vencer, ele diz que é preciso
ter uma tríade: coragem, talento e persistência. Porque, assim como na
música do Guns N' Roses, o mundo "é uma selva".
Enquanto o som toca
"Roots Bloody Roots", do Sepultura, ele comenta a relação entre nossas
raízes culturais e o modo como atuamos no mercado. No Brasil, o trabalho
dignifica. Para ele, o trabalho deve ser, no entanto, divertido e as
pessoas tem de dosar o ritmo — ou seja, nada de tarefas "para ontem".
"I heard it through the grapevine", do Creedence, acompanha Dado
enquanto explica para os campuseiros que não há problema em errar. Pelo
contrário, é o que os fará bons profissionais. Ele destacou ainda a
importância de ser ético, pensar globalmente e saber falar inglês.
"Daqui cinco anos, não haverá mais tradução simultânea na Campus Party",
profetizou.
A música seguinte, "You Know That I'm No Good", da Amy
Wihehouse, serve fazer mandamentos "duros" ao público. Ele diz que um
bom profissional deve ter educação (e ela não está liga a instituições
de ensino, mas a se comportar bem), acompanhar o noticiário diário, ser
polido, ter postura e elegância (não no que se refere a roupas chiques,
mas à atitude).
A batida de "Memories", de David Guetta, encerra a sessão de músicas. E
só então Dado apresenta seu currículo: mais de 30 anos de experiência
em marketing e comunicação, em empresas como DM9, RBS e Ogilvy. O gaúcho
é um dos criadores da marca Claro e ministrou aulas em diversas
intituições. Hoje, trabalha como palestrante e treinador de equipes.
Mentalidade
"Não estamos em uma era de mudanças, a mudança é a nossa era", diz
(finalmente em voz alta). Segundo ele, o mundo só ficará cada vez mais
indecifrável para quem não acompanhá-lo. Ele defende que hoje as pessoas
não se dividem mais por idade, mas por mentalidade. "Posso ter barriga,
mas meu cérebro é de tanquinho", brinca. Para o professor, não existe
diferença entre mundo virtual e real — são os mesmos. Assim como não
existe diferença entre quem ensina e quem aprende. "Nunca uma geração
teve tanto a ensinar para os mais velhos."
Ambiente de trabalho
Dado diz que temos de deixar o "emprego do século XX" para trás.
Naquela época, as empresas podiam ser comparadas ao feudalismo, as
hierarquias eram extremamente marcadas. No trabalho do século XXI, ele
afirma, as pessoas devem atuar em rede, cooperar e entender a função dos
colegas. Hoje não é mais preciso escolher a carreira que os pais
consideram a melhor. As pessoas podem fazer o que gostam e "nunca o
conhecimento esteve tão acessível" — em breve, todos vão dominar a
tecnologia. Mas, como consequência, terão de lidar com maior pressão,
estresse e metas.
Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2015/02/nao-estamos-em-uma-era-de-mudancas-mudanca-e-nossa-era.html
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