Mentores para a geração Y

Geração Y: 'O que os jovens mais precisam nesse momento é de mentores'

Sidnei Oliveira, especialista em gerações, afirma que esses jovens ainda não assumiram seu papel de protagonistas e estão no papel de quem só espera os gestores passarem o bastão

Jovens Carreira Geração Y Motivado Produtivo Trabalho Colegas (Foto: Thinkstock)
 
Muito se fala da geração Y. São ansiosos, ambiciosos, desfocados... Mas, será que esses não são adjetivos que caracterizam os jovens de diferentes épocas? Se você faz parte da geração X, sabe que ela também era definida de uma maneira bem parecida. Pois ser jovem é ser um tanto ansioso e ambicioso. É não ter muitas experiências e ainda assim querer conquistar o mundo rapidinho.

O mundo é cíclico. Toda vez que surge uma nova geração, aquele velho disco arranhado começa a tocar: e agora, o que será do futuro com os jovens de hoje em dia? “Todos os jovens, em determinado momento, ganham a maturidade necessária para seguir em frente”, explica Sidnei Oliveira, autor do livro Geração Y: o nascimento de uma nova versão de líderes (Editora Integrare).

O grande problema é que, ao contrário dos pais, o mercado de trabalho não tem tempo e nem disposição para esperar a maturidade chegar. Mais do que isso: muitas vezes, os gestores não estão preparados para lidar com essas diferenças de gerações. Quando isso acontece, é sempre mais fácil chamá-los de descomprometidos, arrogantes ou preguiçosos. Mas não é bem assim.

A geração Y recebeu toda a influência da internet. Ou seja, existe uma ansiedade ainda mais exagerada, culpa da instantaneidade com que acontecem as trocas. Existe também uma mistura entre a vida pessoal e a profissional que não acontecia antes. Uma ambição de querer conquistar todo mundo rapidamente - que surge de uma pressão imposta por eles próprios.

Ainda que sejam considerados descomprometidos, esses jovens são cheios de expectativas em relação ao mercado de trabalho. Esse conflito entre o olhar dos veteranos e quem, realmente, são esses novatos distorce a realidade. Para Oliveira, eles querem grandes desafios e o salário é o último fator que os motiva. Ainda assim, "eles são a geração que ainda não entrou no jogo para jogar". Por isso, conversamos com o autor para entender quem é e o que deseja a geração Y.

Afinal, quem é a Geração Y?
Tem uma coisa que roda muito nas redes e na mídia de um modo geral que é uma classificação etária. Então, quando falamos desses jovens, eles são os que nasceram entre a década de 80 e 90. São os jovens que receberam toda a influência da internet.

O que eles esperam do mercado de trabalho?
O jovem da Geração Y não sabe lidar com frustrações. Nesses últimos 20 ou 30 anos, nós não preparamos o jovem para lidar com as perdas. De alguma maneira, a sociedade e a família mudaram o seu discurso e sua forma de lidar com os filhos, protegendo eles de frustrações o máximo que era possível. Ou dividindo essa carga, em uma espécie de companheirismo.


Essa proteção fez com que os jovens se tornassem mais frágeis para o mercado de trabalho. 

Ele entra nesse mundo qualificado em termos acadêmicos. Mas, não tem muita “casca”, cicatriz, que dê força para suportar a realidade da consequência. O jovem espera que o mundo corporativo trabalhe a favor dele. Ou que os gestores ajam como os pais, dividindo a responsabilidade, protegendo e dando benefícios antes das consequências. Só que a vida reaI funciona diferente. Aqui, você banca as consequências para então receber os benefícios.

A Geração Y tem uma ambição muito grande de fazer sucesso antes dos 30. Qual a origem dessa necessidade?
Parte disso é um efeito de ansiedade, de você querer resolver tudo rápido. E outra parte vem da comparação de ter tudo o que os pais tiveram. Esses jovens são beneficiados de receber muitas regalias dos pais e possuem a necessidade de superá-los. E se os pais forem de uma classe média ou alta, é difícil essa superação.

Então, eles se sentem pressionados a ser um sucesso. Até para dar uma resposta aos pais que de alguma maneira o privilegiaram. É uma relação de devolução - “eu tenho que mostrar para os meus pais que eles não gastaram dinheiro à toa”.

Até onde essa ambição é benéfica? E quando ela passa a ser prejudicial?
Tudo que é muito exagerado é prejudicial. A ambição de maneira moderada te mobiliza a alcançar patamares superiores aos que já tem. De maneira exagerada, faz você pensar em uma direção equivocada que te afasta do caminho certo.

Quando os jovens estão ambicionando um sucesso, é bacana e bonito em um primeiro momento, desde que seja mobilizador. Agora, se ele acredita que só por existir ele merece, é extremamente imaturo e atrapalha bastante. Porque soa arrogante. O jovem acaba deixando de ser uma pessoa ambiciosa com o benefício desse sentimento. Que, normalmente, arrebenta alguns valores e passa por cima de tudo e de todos.

Quais os maiores problemas que a geração Y enfrenta na hora de entrar no mercado de trabalho?
Primeiro, é essa fragilidade por não estar preparada para encarar pressões. A segunda é encontrar pessoas mais veteranas que não saíram do mercado de trabalho. São pessoas que perceberam a expectativa de vida maior e, por isso, se afastam do mundo corporativo em uma velocidade menor. Na prática, o que acontece é que sobram menos posições e menos desafios para os jovens que estão entrando. Eles têm essa dificuldade de disputar um espaço com os mais veteranos.

Esses veteranos ainda têm um preconceito com a geração Y. Por quê?
É posicionamento. Quando olham para o jovem, usam como referência eles mesmos. Então, reparam no que tinham quando era jovem versus o que a geração Y tem. Essa comparação é até injusta em algumas situações, mas leva ao seguinte pensamento: “eu não tive isso e olha aonde eu cheguei. Agora vem esse rapaz aqui, com tudo o que ele teve e quer tomar o meu lugar”. Essa comparação é relativamente antiga. Só que hoje nós temos muito mais veteranos. E isso intensifica todo esse processo de conflito.

A geração Y é subestimada ou mal entendida em algum momento?
Ela é mal entendida. Existe uma expectativa muito grande em cima dos jovens por conta de todo esse privilégio que eles tiveram e todo o investimento. Ao mesmo tempo, ninguém entrega o desafio para o jovem resolver. Pois não estão dispostos a pagar para ver. Para complicar, muitos jovens se acostumaram com os privilégios e por isso também não estão pagando para ver. Logo, quando o veterano olha o jovem, ele define seu comportamento como falta de compromisso, sem apego ao trabalho. É nessa hora que a gente vê a manifestação do conflito. Ele quer um jovem comprometido e a geração Y ainda não entrou de cabeça nesse jogo.

Em comparação com a geração X, qual o grande diferencial da Y?
Eles têm uma capacidade de aprendizado muito mais intensa e muito mais rápida. Tem muito menos preconceito em relação à diversidade. Possuem a vantagem de ter o pensamento globalizado. Ele é mais contestador que os jovens em outras épocas. Ainda não tem muita ideia de como contestar de maneira adequada, até por falta de referencial, mas esse jovem tem um drive de mudança contínua de querer inovar as coisas. É parte de seu DNA querer mudar e alterar as coisas.


E o diferencial “negativo”?
Ele é impaciente. Ele tem uma dificuldade enorme de ver o todo. A visão sistêmica dele é limitada. Na verdade, acho que ele não tem uma visão sistêmica. E ainda não sabe lidar com frustração.

O que a geração X espera da geração Y?
A geração X espera que o jovem saiba “pagar o preço daquilo que escolhe”. Porque a rigor, a gente vê muito os jovens colhendo as coisas, mas esperando que alguém o ajude a pagar o preço. A geração mais veterana, olhando os jovens, ela pensa: - Ok! Você quer isso? Então pague o preço, não peça ajuda para pagar o preço.

E a segunda coisa, é que ele realmente promova as mudanças que são esperadas. Que ele saia de uma posição acomodada e entre na vaga de protagonista. Que ele vá e faça tudo o que pode fazer. Que entre no jogo, mas entre jogando. Nós vemos o jovem entrando no jogo, sempre com uma reivindicação. E essa sensação de que ele está sempre pedindo, incomoda muito. Esperamos que se ele está pedindo, ele vá lá e faça. Não fica só dizendo “ a gente tem que resolver”. Se está descontente com o trabalho, vá atrás do que você quer. “Ah, mas não estão me dando a chance.” Então, saia da linha do expectador e entre na linha do jogador.

E o contrário? O que os jovens da geração Y esperam dos seus líderes?
Aí tem uma dificuldade. O jovem declara esperar uma coisa, mas eu acho que ele espera outras. Ele declara que espera do líder: compreensão, paciência, desafios, delegação e confiança. Mas, ele está esperando que o gestor passe uma procuração, para daí ele entrar no jogo e protagonizar. E isso é o que ele declara e o que mais a gente vê nas pesquisas.

Olhando bem o jovem e tentando entender o que está por trás dessa declaração eu percebo que o que ele realmente espera dos líderes é uma condição de referência que ele não tem encontrado. Os líderes, no geral, estão muito ocupados executando as tarefas, controlando as equipes e eles não têm se preocupado em ser referências para os jovens.

O que os jovens mais precisam nesse momento é de referência, de mentores. Hoje, a geração Y tem muita dificuldade de olhar para alguém mais velho e enxergá-lo como alguém de referência, como um mentor que de alguma maneira possa inspirá-lo a tomar uma decisão ou caminhar em uma direção. Não é aconselhar, é inspirar. É diferente de dar um conselho, ou um palpite.


Em breve, nossos lideres serão da geração Y. Como serão esses lideres?  
Falta um pouco de maturidade, inclusive nos aspectos de liderança. Ele ainda não foi desafiado suficientemente para ser líder. Quando isso acontece esse jovem acaba atuando em dois tipos de frentes. Ou ele é um tirano como líder. Ou ele acaba adotando aquele líder fraco que é o líder amigo, companheiro – que deixa de ser gestor e é só porta-voz. Eu tenho reparado que o jovem ainda precisa se desenvolver na liderança. Mas, o ponto positivo é que a liderança é uma coisa que você consegue desenvolver, não é um aspecto que nasce pronto e ponto final. Tem como desenvolver.

E você acredita que nós teremos os líderes da geração Y bem desenvolvidos?
Eu acho que sim. A humanidade é cíclica, e vai a uma e outra direção de tempos em tempos. 

Não teve uma época ainda, que os mais veteranos não tenham declarado certa decepção com a nova geração dizendo: o que será do mundo com esses jovens? Então, eu acho que a geração Y vai conseguir atingir a maturidade necessária. Pode ser que demore um pouco mais do que outras gerações. Mas, acho que é só ai que será alterado. Nós já estamos vendo isso, quando os jovens optam por casar mais tarde, ter filhos mais tarde. É como se a adolescência tivesse sido ampliada e a juventude também. Ou seja, vai acontecer, só que mais tarde. Eu sou muito positivo, eu acredito no jovem. Ele vai envelhecer e vai amadurecer também.

A CEO da General Motors, Mary Barra, construiu toda sua carreira dentro da GM. Ela começou como estagiária e foi subindo de posições, até chegar à presidência. Isso tem se tornado cada vez mais incomum. A geração Y é conhecida por mudar de emprego sempre. Uma pesquisa realizada ano passado pela empresa de desenvolvimento executivo Future Workplace, disse que os jovens americanos esperam, em média, passar por 15 a 20 empresas durante a carreira. Afinal, isso é um defeito ou uma qualidade?
Eu acho que é uma estratégia perigosa e errada. Quando você entra em um cenário novo, você é novato. Como novato, você recebe desafios de menor relevância para o ambiente. Ninguém entrega um desafio de maior relevância para um novato. Isso acontece à medida que o tempo passa e o novato adquire experiência.

Quando existe essa troca de empregos com frequência, você recebe menos desafios. O jovem que troca de empresa cinco vezes em menos de quatro anos, por exemplo,  não recebeu em nenhum desses empregos nenhum desafio de alta relevância. No decorrer da carreira, ele se torna um profissional que está acostumado a receber desafios de baixa relevância. Ou seja, o que eu imagino é que você trocar frequentemente de emprego, por motivos diversos, não ajuda em nada a carreira. Só se transformar em um profissional que coleciona desafios de baixa relevância.

Você acha que é difícil engajar a geração Y?
Tem sido difícil. Nós estamos em um tempo onde a vida profissional e a vida pessoal se misturam. A tecnologia faz com que isso aconteça. Na prática, isso muda as expectativas no ambiente de trabalho. Porque já que estou jantando em casa e recebo uma ligação do trabalho, isso também pode acontecer inversamente. Eu posso no trabalho, resolver algo pessoal.  Então, esse novo equilíbrio de expectativas ainda está acontecendo. Isso pode ser percebido como uma falta de engajamento dos jovens. Em alguns casos, é sim uma falta de preocupação com a empresa. Em outros casos, é uma busca por equilibrar a vida pessoal e profissional.

Sabe aquele jovem que deu 18h ele tem que ir embora fazer ginástica? Acontece porque ele é pago para ficar até as 18h. Isso, para os jovens, é só uma divisão de horários. Para o líder, é falta de comprometimento. Na prática, o que a gente tem que ver é que isso é só um novo equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Quem vai ter que lidar com isso são os líderes da geração Y e são eles que já estão promovendo essa mudança de gestão.

Você acredita que para reter os talentos da geração Y, a remuneração é o principal fator?
Eu diria que é o último fator. Na prática, o que retém o jovem é o tamanho do desafio que ele recebe. Quanto mais desafios, mais relevância ele ganha na corporação. Isso ele entende como desenvolvimento pessoal. E o transforma em um profissional mais experiente, mais habilidoso e mais relevante para companhia. Ele perceber isso é um fator de motivação muito forte. Maior que o salário. Não que o salário não seja importante, mas ele não se mantém só por causa do salário. Ele quer maiores salários, ele ambiciona isso. Mas, o que prende o jovem é o tamanho do desafio.


Fonte:  http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2015/05/geracao-y-o-que-os-jovens-mais-precisam-nesse-momento-e-de-mentores.html

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