Como se manter motivado em um ano de crise
Está em todos os lugares: 2015 será um ano difícil para a economia e
para a maioria dos negócios. A expectativa é de baixo crescimento do PIB neste ano que se inicia.
Isso significa poucos investimentos
e resultados mais modestos. Como sempre ocorre em períodos assim, a
pressão no trabalho aumenta, o talento é questionado, as perspectivas de
crescimento profissional ficam distantes e um clima ruim baixa nos
escritórios. Chefes vão gritar, demissões vão ocorrer e decisões duras
serão tomadas. Nós já sabemos disso. A questão é como enfrentar 2015.
São duas opções: deixar o pessimismo tomar conta ou reagir. Esta
reportagem é para quem escolheu o segundo caminho. “O ano de 2015 será
de ajustes, mas isso não é uma desculpa para se abater”, diz Walter
Schalka, presidente da Suzano. “As pessoas não podem assumir uma postura conformista, devem enfrentar a situação.”
Não se trata de adotar uma atitude ingênua, mas de encarar a realidade e
de fazer o seu melhor. Aproveitar, também, para mostrar as habilidades
que momentos de crise exigem: resiliência, capacidade de improvisar,
coragem.
A atitude positiva
ajuda os profissionais a se destacar e a colher os frutos quando a
crise passa. “Manter a motivação é fácil quando tudo está bem. Quem
tiver essa postura agora será reconhecido”, diz José Cláudio Securato,
da Saint Paul, escola de negócios de São Paulo.
Manter o pique não será fácil. Mesmo para os que começam o ano com o
ânimo revigorado, enfrentar as más notícias cansa. Segundo a consultora
carioca Patricia Cotton, nesses momentos surge com mais facilidade o
ciclo do tédio, composto de três fases. A primeira é a felicidade diante
do novo, quando alguém acaba de ser promovido ou muda de emprego e fica
feliz em ter de se adaptar a uma realidade diferente.
A segunda é a sensação de estagnação, quando tudo começa a funcionar
normalmente e as pessoas sentem que estão entrando em uma zona de
conforto. A terceira é o tédio de fato, quando o desânimo toma conta. Em
um ano em que pouca coisa acontece, é grande o risco de cair na apatia
de esperar passivamente as coisas melhorarem.
O antídoto para esse problema é a transformação. “As pessoas ficam
infelizes porque se deixam levar pela inércia”, diz Patricia, que deixou
uma carreira em departamento de marketing de empresas como PDG, Beleza Natural e Globosat e foi estudar o ciclo do tédio na Alemanha, na Berlin School of Creative Leadership.
A lição mais importante para quem quer ter uma vida diferente é manter a
disciplina na transformação. “Tudo começa com a ousadia, mas só dá
certo se você mantém o zelo com sua intenção inicial”, diz Patricia.
A transformação não precisa ser radical. É importante, aliás, manter
seus alicerces para não se desestruturar. “A mudança é como a
acupuntura: ninguém coloca agulhas no corpo todo para resolver um
problema”, afirma Patricia. “Primeiro você precisa descobrir qual é o
ponto estratégico para mudar o sistema.”
E esse ponto estratégico pode ser algo simples, como uma mudança de
atitude no modo como encara os problemas, uma guinada na rotina para ter
mais qualidade de vida ou um ajuste fino na carreira para encontrar o
verdadeiro propósito.
Pense diferente
O cenário está mais complicado e desafiador. Quanto antes você se der
conta e começar a pensar em soluções e em novas maneiras de agir, menos
doloroso será o processo de adaptação.
Com o dinheiro mais curto, as empresas ficam atentas para quem consegue
propor inovações (e principalmente redução de custos). “O desafio é
sair da mesmice e atuar de maneira mais criativa”, diz Adriana Prates,
presidente da Dasein Executive Search, empresa de recrutamento de Belo
Horizonte.
Invista energia naquilo em que você tem o poder de mudar. “Se a
perspectiva é faturar menos, o funcionário deve pensar em maneiras de
ganhar produtividade, por exemplo”, diz Mariane Guerra, vice-presidente
de RH da ADP, empresa especializada em gestão de pessoas, de São Paulo.
Mas tome muito cuidado.
O custo do erro costuma ser alto durante esses períodos. As novas
ideias devem ser embasadas em pesquisas profundas e consistentes. Corra
riscos calculados. “Caso a ideia dê errado, pelo menos será possível ter
argumentos de que era a hipótese mais acertada no momento”, afirma
Adriana.
Explore o talento
O profissional precisa refletir sobre seus pontos fortes e sobre como
pode contribuir para ajudar a empresa a passar por um período delicado.
Você será lembrado por aquilo que fizer bem. “Em momentos de crise,
pessoas escondidas nos bastidores têm a chance de mostrar que são
úteis”, diz Adriana, da Dasein.
É hora de criar coragem e mostrar sua capacidade. Só tome cuidado para
não agir como um salvador da pátria e propor algo que você não
conseguirá fazer.
Busque a sabedoria
Não será a primeira vez que o Brasil passará por um período difícil.
Muito pelo contrário. Cole nos profissionais experientes e aprenda com
eles as estratégias, os argumentos e os truques que funcionam em fases
de baixo crescimento.
Aliás, num mundo que está saindo de uma crise internacional, há casos
de superação em toda parte. Vale pesquisar histórias de quem superou
alguma crise. Converse e aprenda.
Se o dia a dia está pesado e os problemas não param de surgir,
mantenha a motivação pensando no futuro. A crise vai passar uma hora.
Pense nas boas coisas que poderão ocorrer, seja no trabalho atual, seja
na vida pessoal, seja numa eventual mudança de rumo que está começando a
ser planejada.
Tudo isso sem perder o foco no presente, claro, pois o trabalho
precisa ser entregue. “Uma hora a crise passa, e ter algo importante em
vista é uma ótima maneira de deixar de lado as agruras do dia a dia”,
diz Irene Azevedo, diretora de negócios da LHH|DBM, de São Paulo.
Mantenha a calma
Em momentos de crise, a pressão aumenta e os ânimos se exaltam. A
ameaça de demissão e as deslealdades de colegas aparecem com maior
frequência. Tente controlar a ansiedade.
Na hora do nervosismo, o cérebro não funciona direito, o que piora a
qualidade das decisões tomadas. “Uma situação estressante faz as
pessoas agir com emoção”, afirma Camila Pires, diretora da Rede Indigo,
empresa de desenvolvimento humano, do Rio de Janeiro. “Precisamos
analisar as situações com base em fatos, e não em suposições e
percepções.”
Resista ao baixo-astral
Sim, haverá momentos de desânimo em várias ocasiões neste ano. Mas
evite que os pensamentos negativos fiquem o tempo todo em sua cabeça.
“Não é para exagerar no otimismo e se tornar uma pessoa alienada”, diz
Pamela Magalhães, psicóloga de São Paulo.
Só que não adianta mergulhar nas possibilidades negativas
desconsiderando seu trabalho e seu potencial. “Encontre o gatilho que
desencadeia o pessimismo e busque apoio, interno e externo, para lidar
com a situação”, diz Camila, da Rede Indigo.
Jogue com lealdade
Em tempos de apreensão e insegurança, é natural que a
competitividade aumente — todo mundo quer mostrar que é indispensável.
Mas uma rivalidade excessiva com os colegas piora o clima, que já está
ruim.
Seja realista, faça um bom trabalho, mas cuide para não deixar o
medo de perder o emprego transformá-lo em uma pessoa ruim. “Faça uma
gestão pela esperança, não pelo medo, e não espere que seu chefe seja o
fio condutor disso, pratique no dia a dia”, afirma Adriana, da Daisen.
As empresas têm valorizado pessoas que, independentemente do cargo
que ocupam ou do crachá, conseguem unir as equipes e proporcionar um
clima agradável — principalmente em épocas difíceis de crise.
Olhe para os lados
Muita gente tende a tomar os próprios sentimentos como referência.
Trata-se de uma má leitura do ambiente, principalmente quando o
profissional se impressiona excessivamente com o cenário negativo.
É preciso tirar o viés pessoal das análises racionais. Faça um esforço
para enxergar, de fato, o que ocorre na empresa e no mercado. Isso
amplia as possibilidades e suas referências.
Se seu chefe está pessimista, busque inspiração em pessoas que pareçam
acreditar mais que as coisas poderão dar certo. Pode ser um colega, um
cliente ou, em muitos casos, o presidente da empresa.
Evite comentários negativos
O cenário é difícil, mas ficar o tempo todo dizendo que vai dar tudo
errado, além de ser chato, contamina o ambiente e amplifica o
pessimismo, que só vai prejudicar ainda mais a produtividade. “Diante de
um problema, as pessoas só pensam no sofrimento, e nada é criado”, diz a
psicóloga Pamela.
Viva um dia de cada vez e pense no que pode ser feito para que as
coisas melhorem — não o contrário. Bom senso é fundamental quando se
trabalha em equipe.
Cuide da saúde
O momento atual exige esforço e dedicação, mas sem deixar a vida
pessoal de lado. Por mais estressantes que os dias de trabalho estejam,
não descuide de sua saúde e de sua vida afetiva.
A falta de sono, o estresse e o sedentarismo diminuem a produtividade e
aumentam a incidência de doenças. E não dá para ficar com a disposição
em baixa quando a empresa mais precisa que você trabalhe no auge de sua
capacidade.
Seja mais produtivo
Períodos de instabilidade exigem produtividade alta. É hora, então, de
analisar os problemas que prejudicam sua eficiência e fazer ajustes
para solucioná-los. “É preciso entregar mais, e não ficar se
justificando porque não fez”, diz Adriana, da Dasein.
Quem se destaca são os que mostram capacidade de fazer mais. Entregar
bons resultados é a melhor estratégia para ter visibilidade — e fugir da
demissão. Tente se planejar e fazer uma gestão de risco sobre suas
entregas. “Não deixe o mais difícil para o final.”
Improvise
Em períodos de instabilidade, o trabalho e as demandas mudam muito.
Por isso, é preciso ser flexível no modo de agir e acreditar que o que
ficou para trás ficou. “Vale a lei de que não são os mais inteligentes
que sobrevivem, mas os que se adaptam melhor”, diz Irene, da LHH|DBM, do
Rio de Janeiro.
Fonte: http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/199/noticias/como-se-manter-motivado-em-um-ano-de-crise
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