Geração nem nem

O próximo "nem-nem" pode ser você

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Segundo o IBGE 69% dos “nem-nem” são mulheres e 57% delas têm pelo menos um filho — o que é, aliás, o principal motivo para a saída dessas profissionais do mercado.

 
Juliana Thaís Paes, de 19 anos, está sem trabalhar oficialmente desde outubro, quando foi demitida do cargo de recepcionista de uma concessionária em sua cidade natal, São José dos Campos, no interior de São Paulo. De lá para cá, já enviou o currículo para mais de 100 lugares. “Ainda não apareceu nenhum trabalho que valha a pena”, diz Juliana.
 
Enquanto procura uma nova vaga, ela mora com os pais e sua rotina se resume a fazer fisioterapia em decorrência de uma tendinite, ir à igreja e ajudar a família nos afazeres domésticos. Juliana integra o grupo de 9,9 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos que nem trabalham nem estudam — por isso, são chamados de “nem-nem”.
 
A proporção é ainda maior na faixa dos 18 aos 24 anos, em que um em cada quatro jovens não está no mercado nem estuda (24%) — um aumento em relação ao censo de 2000, quando esse grupo representava 18,2% da população nessa idade. A explicação para esse crescimento estaria basicamente no aumento de renda da população brasileira, o que permitiu a esses jovens se dar ao luxo de adiar tanto a saída da casa dos pais quanto a entrada no mercado de trabalho. 
 
Observado de perto, entretanto, o grupo dos “nem-nem” é bem mais heterogêneo do que se imagina. Segundo o IBGE, 69% dos “nem-nem” são mulheres e 57% delas têm pelo menos um filho — o que é, aliás, o principal motivo para a saída dessas profissionais do mercado.
 
O alto custo das creches e pré-escolas e a falta de vagas em instituições públicas são as principais razões para haver tantas mulheres nesse grupo. Só na cidade de São Paulo, a lista de espera do sistema público de educação tem mais de 110 000 crianças cadastradas. 
 
Uma das possíveis razões para o aumento do número de pessoas fora da população ocupada é a situação atual do mercado, em que o número de postos de trabalho com carteira assinada, em outubro, diminuiu pela primeira vez desde 1999. Foram mais de 30 000 vagas fechadas. O valor real dos salários também vem caindo.
 
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o ganho acima da inflação no ano passado foi de 1,5 ponto percentual, ante 2,5 pontos em 2013. “Como as empresas dizem que não estão contratando, as pessoas deixam de procurar emprego”, diz Adalberto Cardoso, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autor do estudo Juventude, Trabalho e Desenvolvimento: Elementos para uma Agenda de Investigação. 
 
É essa situação que dá origem ao chamado “desemprego por desalento”, caracterizado por pessoas que estão sem trabalho e deixaram de procurar durante, pelo menos, um mês, por desestímulo do mercado. Há ainda os que não buscam colocação porque não querem ou têm outros planos.
 
Considerando todas as faixas etárias, há 61 milhões de pessoas no Brasil que não trabalham, não procuram emprego e, em sua maioria, não estudam. Ainda que a maior parte dos “nem-nem” seja formada por profissionais com pouca qualificação, existe uma parcela do grupo constituída por gente que, em tese, teria facilidade para encontrar um novo emprego.
 
Um dos que se viram nessa situação é o administrador de empresas Samuel Bonette, de 27 anos, que mora em Porto Alegre. Em maio de 2014, ele perdeu o cargo de gerente em uma empresa de marketing que foi transferida para São Paulo. Desde então, enviou currículos, acionou seu network e chegou a fazer algumas entrevistas, mas acabou decidindo que este seria o momento para uma transição de carreira. “Sempre quis ser empreendedor e percebi que esta é minha chance”, diz.
 
Ele mora com a mulher, que trabalha e estuda, e tem se mantido até agora com a ajuda dela, com a reserva que fazia para emergências e com o valor que recebeu da rescisão do contrato e do seguro-desemprego. Enquanto isso, Samuel investe seu tempo na formulação de um site, que espera colocar no ar ainda em 2015. “Metade dos meus amigos está mais ou menos na mesma fase de mudanças que eu”, diz Samuel.
 
Casos como esse revelam que o rótulo de “nem-nem” pode ser temporário. “Não diria que essas pessoas que não estão estudando nem trabalhando vão ficar assim para sempre”, diz Ana Lucia Saboia, pesquisadora social e ex-coordenadora da Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE. “Essa situação, de se tornar um ‘nem-nem’, pode acontecer com qualquer um em algum momento da vida.”

Fonte:  http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/noticias/o-proximo-nem-nem-pode-ser-voce

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