Crise hidrica faz empresas criarem estratégias

Empresas criam programas para gerenciar falta de água

Fernando Carvalho/Fotos Públicas
Sistema Cantareira em nível crítico de armazenamento de água
Renata Costa, da VOCÊ RH


São Paulo - Em maio de 2014, após o verão mais seco em 84 anos, o Sistema Cantareira, maior rede de abastecimento de água do Brasil, responsável por suprir 50% de toda a região metropolitana de São Paulo, acendeu a luz vermelha.

Com apenas 9% de sua capacidade de armazenamento, foi necessário recorrer — pela primeira vez — ao uso das águas de sua reserva técnica de 400 milhões de metros cúbicos, conhecida como volume morto. A culpa — dizem os especialistas — não é apenas da falta de chuva, que, além de São Paulo, atinge toda a Região Sudeste e a Centro-Oeste.

A degradação das áreas circunvizinhas aos mananciais, a má gestão da água — incluindo o baixo investimento em redes de abastecimento e de tratamento de esgoto — e o crescimento populacional e industrial (e sua consequente demanda por água) foram apontados como outros causadores da maior crise hídrica que se instalou no país.

De acordo com a organização ambiental The Nature Conservancy, a Grande São Paulo já tem uma demanda 4% maior do que o volume disponível nos reservatórios que a abastece, caracterizando uma situação de estresse hídrico, quando a demanda por água é maior do que a oferta. Se nenhuma medida for tomada, a Nature Conservancy alerta que, em 2025, esse déficit poderá ser de quase 20%. 

Se o cenário já é dramático para a população, para as empresas a situação é mais grave, afinal, o consumo mundial de água doce se divide em 70% para a agropecuária, 20% para a indústria e apenas 10% para uso doméstico.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) realizou um levantamento em julho com empresas da região de Campinas e estima que 3 000 postos de trabalho já tenham sido fechados por lá por causa da falta d’água. Se a escassez continuar, projeções indicam que poderá haver um prejuízo na produção no valor de 20% do total do PIB do país somente no território paulista.

Para não correr o risco de ter de enxugar estruturas, diminuir linhas de produção e até fechar as portas por falta de água, as companhias têm feito muito mais do que esperar um milagre do céu — e algumas estão literalmente tirando leite de pedra — no caso, água.

Já prevendo um cenário crítico, a Volkswagen lançou em 2010 uma meta de redução de 25% no uso de água e outros insumos em todas as suas unidades do mundo até 2018, no programa batizado Think Blue Factory.

No Brasil, a economia de água na montadora já chegou a 13,6% em 2013, graças a uma série de ações que envolvem rea­proveitamento, captação e novas tecnologias que reduzem o consumo desse recurso natural na fabricação de produtos.

Além de captação de chuva em todas as unidades e reaproveitamento da água usada no processo industrial, outra ação foi realizada na planta de São José dos Pinhais, no Paraná. 

Ali, toda a água utilizada em testes semanais de equipamentos contra incêndio na unidade passou, neste ano, a ser coletada em tanques e reaproveitada para resfriar máquinas no processo produtivo.

“Com essa medida simples vamos economizar 16 000 metros cúbicos de água por ano, volume que era simplesmente tragado pelo ralo”, diz Celso Placeres, diretor de engenharia de manufatura da Volkswagen do Brasil. O projeto recebeu em novembro um prêmio de reconhecimento na sede da empresa na Alemanha.

Na unidade de Anchieta, em São Bernardo do Campo, outra medida inovadora capta 22 metros cúbicos de água por mês em gotas que são geradas na parte externa de compressores durante o processo de resfriamento desses equipamentos. “Todos os projetos bem-sucedidos em uma unidade são progressivamente levados para outras plantas”, diz Placeres.

No setor de pintura da fábrica de Taubaté, a implementação de uma nova tecnologia trouxe ainda 20% de economia de água e 30% de energia por carro produzido. Chamada de E-Scrub, a tecnologia permite a limpeza dos resíduos de tinta por meio de um processo a seco com uso de eletrostática. O investimento foi de 427,8 milhões de reais. “A água é um bem escasso e caro, e a economia traz, sim, retorno no longo prazo, pois nossa conta de água está sempre diminuindo.”

Reúso de água também foi a estratégia adotada pela Itambé em sua unidade de Sete Lagoas, em Minas Gerais. Toda a água utilizada pela empresa nessa planta vem de poços artesianos, que dependem de chuvas e de boa absorção do solo para se manter ativos.

“Ali fabricamos leite condensado e leite em pó, produtos que resultam da extração da água do leite in natura”, afirma Mauricio Petenusso, gerente de sustentabilidade da empresa. Essa água oriunda do processo produtivo passa por filtragem e tratamento e é reaproveitada em torres de resfriamento e para limpeza em geral. O projeto foi responsável por uma diminuição de 50% no volume de água captado da natureza.

As iniciativas para economizar água não precisam necessariamente consumir milhões em investimentos. Às vezes, os próprios funcionários — ao ser envolvidos na questão — trazem soluções mais simples, que alcançam retornos significativos.

Em setembro de 2014, os 700 empregados da Indústrias Colombo, fabricante de máquinas agrícolas localizada em Pindorama, no interior de São Paulo, receberam o Manual 13 Coisas 

Que Você Não Sabia sobre a Água, publicado pelo Planeta Sustentável, iniciativa de sustentabilidade do Grupo Abril, que edita a VOCÊ RH.

A partir desse material e de cartazes e e-mails de conscientização sobre o uso da água, a empresa começou a receber várias ideias da equipe. “Um gerente de fábrica passou a utilizar filtros que já estavam disponíveis para limpar a água que abastece 12 máquinas utilizadas no processo industrial”, diz Luiz Antonio Vizeu, gerente de marketing da companhia.

“Só aí tivemos uma economia de 4,8 metros ­cúbicos de água por mês.” O responsável pela frota de veículos também diminuiu a frequência de lavagem dos 40 carros da empresa de semanal para mensal. A economia foi de aproximadamente 67 000 litros por mês, o equivalente ao consumo mensal de água de dez pessoas.

Fonte: http://exame.abril.com.br/revista-voce-rh/edicoes/35/noticias/os-gestores-da-agua

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