As primeiras experiências profissionais moldam o seu futuro
Em entrevista, o professor András Tilcsik fala sobre como nossas primeiras experiências de emprego podem ajudar a formar nosso perfil como profissionais...
Em
entrevista, o professor András Tilcsik, da escola de negócios Rotman,
do Canadá, fala sobre como nossas primeiras experiências de emprego
podem ajudar a formar nosso perfil como profissionais e afetar nosso
futuro em outras empresas. Ele fez um estudo e viu que começar em uma
empresa que está em um bom momento nos faz desenvolver competências
diferentes do que se começamos a carreira em uma época de dificuldades
para os negócios, por exemplo. Confira na entrevista a seguir.
Como suas primeiras experiências podem marcar sua trajetória profissional?
Seu
primeiro emprego pode dizer muito sobre quais habilidades você irá
desenvolver. O professor András Tilcsik, pesquisador da Escola de
Negócios de Rotman, no Canadá, descobriu que pessoas que têm sua
primeira experiência profissional em uma empresa que está em um extremo -
indo muito bem ou indo muito mal - são bem mais marcados por esse
período do que imaginam.
Quem
começa a carreira em empresas que estão em um momento não tão bom
assim, por exemplo, tende a ser mais analítico e a buscar recursos
diferentes com mais facilidade. Já quem começa em um lugar que está com
tudo pode ter mais facilidade com ambientes acelerados. “Não é nem bom
nem ruim, o que importa mais é se depois os ambientes profissionais
serão parecidos com o primeiro para haver uma combinação”, András
afirma.
O que
importa para seu desempenho futuro, então, não é como foi o primeiro
emprego, mas sim se suas experiências posteriores serão similares ao
ambiente em que você teve suas primeiras experiências profissionais?
Sim,
em várias das primeiras pesquisas as pessoas se focavam apenas em olhar
as primeiras experiências profissionais, mas o que eu mostro é que não é
somente qual a sua primeira experiência que importa, como você disse,
mas sim esse jogo entre suas experiências formativas, o ambiente
econômico da empresa em que você começa a trabalhar e as futuras
empresas em que você trabalhará.
O senhor diria que gerentes e diretores de recursos humanos deveriam levar isso em consideração ao contratar alguém?
Acho
que essa é uma das implicações. Mas quero deixar claro é que no meu
artigo os resultados vêm da observação de pessoas dentro de uma única
organização, então eu não tive a oportunidade de acompanhar as pessoas
quando elas entraram em um novo emprego e saíram de uma empresa para
outra.
Mas
certamente pode-se imaginar ou assumir que se as pessoas podem levar
consigo as marcas do emprego anterior, conforme elas mudam de empresa,
então quem contrata deveria levar isso em consideração. As primeiras
experiências deles podem ter deixado uma marca neles e que podem estar
determinando como eles encaram o trabalho e como eles pensam sobre o
trabalho. Essa pode ser uma ferramenta útil para gerentes porque você
sabe quando pode esperar um bom desempenho de uma pessoa em particular.
Então uma pessoa deveria procurar empregos de acordo com as experiências anteriores para assegurar seu melhor desempenho também?
As
pessoas em geral deveriam procurar por empregos que têm certa
compatibilidade entre seus talentos e os desafios do novo emprego. Um
aspecto importante nessa compatibilidade é que temos habilidades e
costumes que correspondem a trabalhar em uma determinada configuração de
disponibilidade de recursos, isto é, se a empresa está em um bom
momento economicamente ou não.
E
esse não é o tipo de coisa sobre a qual costumamos pensar, normalmente a
gente pensa em termos de habilidades técnicas ou na cultura das
organizações, tem outros aspectos importantes em termos de
compatibilidade no que diz respeito ao cenário de disponibilidade de
recursos.
O que os gerentes de jovens em primeiros empregos poderiam fazer para minimizar essa marca da primeira experiência profissional?
Seria
uma ideia razoável tentar diversificar as experiências pelas quais as
pessoas passam no começo. Acho que isso é particularmente importante
para quem está no começo da carreira, que acabaram de sair da escola...
essas pessoas são particularmente suscetíveis a esse tipo de impacto.
Mas
esse tipo de intervenção do gerente para diversificar as experiências
dos recém-chegados é só realmente importante quando a empresa está em um
cenário extremo, então se a empresa está numa situação mais normal ou
mediana, e as experiências que os recém-chegados estão tendo são
similares às que eles terão mais tarde, então isso não é algo com que os
gerentes precisem se preocupar muito.
O senhor acha que alguém que ainda está no começo deveria evitar uma companhia que se encontra em um desses estados extremos?
Eu
não diria necessariamente evitar… Mas os empregados deveriam ir para
empresa tendo em mente que esse primeiro período é muito de formação, se
estão no começo da carreira.
Não
estou dizendo que eles devem evitar esses cenários, mas deveriam pelo
menos estar cientes dos riscos de se tornar muito especializados,
acostumados a certos tipos de trabalhos ligados a determinados cenários
de disponibilidade de recursos.
Você
poderia destacar o que você percebe como principais habilidades que uma
pessoa pode desenvolver de acordo com um cenário rico ou pobre em
recursos?
Eu
acho que isso realmente depende do tipo de trabalho. Eu tenho
investigado tecnologia da informação que desenvolviam para firmas de
consultoria.Vejo evidências de que pessoas que vêm de um período muito
bom e são expostas a um ambiente mais acelerado, com muitos projetos,
tendo que mover de projeto pra projeto, acabam aprendendo a usar atalhos
e ser rápidos.
Ao
mesmo tempo eles se tornam menos focados nas relações humanas, porque o
ambiente demanda execução, mais do que explorar para achar a melhor
solução. Este é o conjunto de habilidades que vimos que eles
desenvolvem. Já para pessoas que vêm de um ambiente menos fluido, uma
das coisas que um período de crise demanda é que as pessoas aprendam a
cortar custos e sejam mais econômicas com seus projetos.
A
crise incentiva a pessoa a aprender diferentes tipos de habilidades...
Mas, de novo, quais tipos de habilidades vai depender da natureza do
emprego. Mas nós deveríamos estar cientes de que o que acontece e como
aprendemos e o que fazemos é realmente afetado pelo cenário relativo à
disponibilidade de recursos.
Como
estamos num contexto de crise aqui no Brasil, o senhor acha então que
isso pode afetar o modo como as pessoas irão trabalhar no futuro?
Meu
trabalho é mais sobre o que acontece numa firma em particular, que pode
ou não depender do contexto macroeconômico. Mas existem pesquisas
sugerindo que crises como essa ou um período de recessão têm todo tipo
de efeitos nas pessoas no longo prazo.
Tem
uma pesquisa que descobriu que as pessoas que terminaram a graduação na
recessão, comparadas com quem se formou em tempo de crescimento, em
média, tendem a ser mais satisfeitas com suas vidas, na verdade.
Como
elas têm menos chance de achar um emprego por conta da crise, quando
elas acham, elas tendem menos a imaginar alternativas melhores. Elas não
pensam “oh, poderia estar tão melhor”, porque elas sabem que elas vêm
desse período realmente ruim... no longo, prazo serão mais satisfeitas
que seus colegas.
Fonte: http://vocesa.uol.com.br/noticias/acervo/as-primeiras-experiencias-profissionais-moldam-o-seu-futuro.phtml#.VfbHxH2bEjd
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