Conhecido por dar as aulas mais concorridas da Universidade Harvard, o israelense Tal Ben-Shahar conta como ajuda os alunos a ser mais realizados
SÃO PAULO - Os cursos mais populares da Universidade Harvard, nos
Estados Unidos, não ensinam medicina nem direito, mas felicidade. No ano
passado, mais de 1 000 alunos se inscreveram para assistir às aulas do
professor Tal Ben-Shahar, que usa um ramo da psicologia para ajudar os
estudantes de graduação na busca da realização pessoal.
Na
primeira vez que ministrou o curso, há dez anos, oito pessoas se
inscreveram. A fama cresceu e, embora os alunos façam trabalhos, não
recebem notas, mas algo mais pessoal.
“Eles falam que a aula muda a vida
deles”, diz Tal. Nesta entrevista, ele mostra como encontrar satisfação
profissional e pessoal.
VOCÊ S/A - Aulas
que têm como enfoque otimismo e felicidade não são algo comum em uma
universidade tradicional como Harvard. Por que criou o curso?
Tal Ben-Shahar
- Comecei a estudar psicologia positiva e a ciência da felicidade
porque me sentia infeliz. No meu segundo ano de estudante em Harvard,
quando cursava ciência da computação, eu era bem-sucedido, pois tinha
boas notas e tempo para atividades que me davam prazer, como jogar
squash. Mesmo assim era infeliz. Para entender por que, mudei de área e
fui cursar filosofia e psicologia. Meu objetivo era responder a duas
perguntas: por que estou triste e como posso ficar feliz? Estudar isso
me ajudou, e decidi compartilhar o que aprendi.
VOCÊ S/A - Uma
pesquisa de doutorado feita no Brasil revela visões diferentes do que é
ser bem-sucedido, que vão além de dinheiro e poder. As pessoas buscam
algo mais profundo?
Tal Ben-Shahar
- Sucesso não traz, necessariamente, felicidade. Ter dinheiro ou ser
famoso só nos faz ter faíscas de alegria. A definição de sucesso para as
gerações mais novas mudou. Não é que as pessoas não busquem dinheiro e
poder, mas há outros incentivos. No passado, sucesso era definido de
maneira restrita, e as pessoas ficavam numa empresa até a aposentadoria.
Agora, há uma ânsia por ascender no trabalho, ter equilíbrio na vida
pessoal e encontrar um propósito.
VOCÊ S/A - Qual a principal lição sobre a felicidade o senhor aprendeu?
O
que realmente interfere na felicidade é o tempo que passamos com
pessoas que são importantes para nós, como amigos e familiares — mas só
se você estiver por inteiro: não adianta ficar no celular quando se
encontrar com quem você ama. Hoje, muita gente prioriza o trabalho em
vez dos relacionamentos, e isso aumenta a infelicidade.
VOCÊ S/A - Descobrir para onde queremos ir seria a grande questão?
Muita
gente não sabe o que pretende da vida simplesmente porque nunca pensou
sobre o assunto. As pessoas vivem no piloto automático. Ouvem de alguém
que deveriam ser advogado ou médico, e acreditam em vez de se perguntar
do que gostam. Essa é a questão fundamental.
VOCÊ S/A - Como aplicar as diretrizes da psicologia positiva no dia a dia do trabalho?
Uma
maneira é pensar nos progressos diários que um profissional alcança no
fim de cada dia. Segundo uma pesquisa de Teresa Amabile, professora de
administração da Harvard Business School, quem faz isso tem índices mais
altos de satisfação e é mais produtivo. Deve-se também valorizar os
próprios pontos fortes e, no caso dos chefes, os pontos fortes das
pessoas da equipe, o que aumenta a eficiência dos times. Isso não
significa deixar de lado as fraquezas, que devem ser gerenciadas. Apenas
que a maior parte da energia precisa ser gasta fortalecendo os pontos
fortes ao máximo.
VOCÊ S/A - Dá para fazer isso mesmo em momentos de crise ou de baixo desempenho?
Sim,
desde que os profissionais sejam realistas. Em 2000, quando Jack Welch
(ex-presidente da GE e referência em gestão) foi nomeado o gerente do
século pela revista Fortune, perguntaram que conselho ele daria a outros
gerentes. A resposta foi: aprendam a encarar a realidade. O mesmo se
aplica nesse caso. A psicologia positiva não defende que os erros e os
pontos fracos sejam ignorados. Apenas propõe uma mudança de foco: parar
de enxergar só o que vai mal e ver o que dá certo — mesmo nas crises. A
proposta é observar o quadro completo da realidade.
VOCÊ S/A - Qual sua opinião sobre o discurso de que basta fazer o que ama para encontrar satisfação profissional?
Isso
pode ser a solução para alguns. Na maioria dos lugares e trabalhos, é
possível identificar aspectos significativos para cada pessoa. Uma
pesquisa feita com profissionais que trabalham em hospitais mostrou que
tanto no caso de médicos quanto de enfermeiros e auxiliares havia
profissionais que enxergavam o trabalho como um chamado e outros que o
viam apenas como um emprego. Em outras palavras, o foco que damos ao
trabalho acaba sendo mais importante do que a natureza dele. Alguém que é
funcionário de um banco pode pensar que trabalha com planilhas o dia
todo ou que está ajudando as pessoas a gerenciar sua vida.
VOCÊ
S/A - O jornalista britânico Oliver Burkeman defende que não se deve
buscar felicidade, mas o equilíbrio, pois ninguém pode ser feliz sempre.
O que acha disso?
Concordo. A primeira lição que dou
na minha aula é que nós precisamos nos conceder a permissão de sermos
seres humanos. Isso significa vivenciar emoções dolorosas, como raiva,
tristeza e decepção. Temos dificuldade de aceitar que todo mundo sente
essas emoções às vezes. Não aceitar isso leva à frustração e à
infelicidade.
VOCÊ S/A - O senhor é feliz?
Eu
me considero mais feliz hoje do que há 20 anos e creio que serei ainda
mais feliz daqui a cinco anos. A felicidade não é estática. É um
processo que termina apenas com a morte.
Encontrei significado em meu
trabalho e faço o que me dá prazer, mesmo tendo, como todo mundo,
momentos de estresse e sofrimento — esse é o equilíbrio que todo
profissional deve almejar.
Mas também procuro desfrutar de
coisas fora do mundo do trabalho: passar tempo com minha família, com
meus amigos e encontrar um espaço na agenda para a ioga. Tudo com
moderação.#
>Esta
matéria foi publicada originalmente na edição 197 da revista Você S/A,
em Novembro de 2014 e poder conter informações desatualizadas
Fonte: http://vocesa.uol.com.br/noticias/carreira/professor-de-harvard-ensina-alunos-a-ser-feliz.phtml#.VmLvK16bEjd
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